Dentro da Sagres, Alfos não está no banco: duas longas e finas
plumas brancas presas à nuca pela faixa larga de télia; nenhuma
armadura, só alvo colóbio e níveo cordão; o velho armipotente
de prateadas cãs firma na sinistra as rédeas de quatro monoceros
árdegos e pisa descalço o chão do aurinevado carro monorroda, de
cujo eixo dois diapasões reatâncicos se projetam, análogos aos
da navícula, entanto menores! No ar, sob a destra do éneo campeão,
flutua uma réplica da Sagres, esfera repleta de diapasões; e Alfos
dedilha-os habilmente, pilotando a Nau! Embora se use o termo
"cavalgar" e sinônimos para quem os monta, e conquanto para sua
voz se empregue a dicção "rinchar", os monoceros não são
monocerontes
nem aqueles cavalos com um chifre na testa, os
quadrupedantes licornes da mitologia tridéltica. Os monoceros
são chifres ambulantes! Um monocero é robusta guampa fusiforme
viva, de rígida couraça, monoplástico exosqueleto, convizinho a
certos
caramujos ou às casquinhas de sorvetes, e não possui a larga
abertura: é fechado atrás. Não quadrupeda: caminha deitado, coa
ponta adiante, sobre cento e vinte pares de patas, cujos segmentos
corpóreos correspondentes não são móveis qual os das centopéias
e doutros miriápodes da Terra; sim, consolidados pelo decurso das
eras para formarem a couraça externa. Logo abaixo da ponta do
chifre está a boca, embridada com torçaladas habenas de télios, e
não tem olhos ou ocelos: segue vibrações eletromagnéticas de
amplo espectro, captadas pela ponta duríssima da couraça e
amplificadas em ressoadores ósseos ao longo da medula. As
patas
mais compridas acham-se na dianteira; isso põe o dorso
do monocero nivelado com o solo e facilita a "equitação". Os
arreios prendem-se a ganchos salientes ao redor do
exosqueleto,
puas voltadas para vante. Aos dóceis monoceros de cavalgamento,
os donos serram os ganchos no lugar da sela; estes alcançam alto
preço como suvenires giísticos e servem, qual o marfim dos elefantes,
de matéria prima para elaboradas esculturas - os três máximos máxime,
próximos à ponta, ou bico, do animal. Desses três, um aponta acima
e dois aos lados: nestes, fixa-se o tauxiado arreio dos monoceros de
Alfos; esplêndidos, longevos exemplares! O exosqueleto de súpero
valor é transparentíssimo; através desse cristal, a cor das bíolas
gédias cambia por todo o espectro visível e além; não,
simplesmente, como a da pele dos aracnopólipos; sim,
luminescentemente, de acordo com as emoções e a
captação
do mundo exterior, feita pelo bico, sempre
a
emitir
géon branco de intensidade variável: uma
bênção
aos ekuleiros umalfos, quando
cavalgam
de lúmia sob as írias jalnes!
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Nota de CCDB: Idavan Ricciardi é Coronel Médico da Aeronáutica R/R e, na vida civil, médico com título de especialista em ginecologia e obstetrícia pela Associação Médica Brasileira, Mestre em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública e diplomado pela ESG (Escola Superior de Guerra) no Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia.
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Nota de CCDB: Júlio C. Martins é Professor da UFES (no curso de Comunicação Social) de Produção de áudio e pesquisador em comunicação e semiótica na linha acústica e percepção sonora. Mestrado em comunicação e semiótica na PUC/SP
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